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"O ES precisa de um movimento para promover o Estado lá fora", afirma CEO do Aeroporto de Vitória

Ricardo Gesse, CEO Zurich Airport Brasil, concessionária responsável pelo Aeroporto de Vitória, afirmou que o desenvolvimento do turismo seria um extraordinário para a expansão dos negócios do terminal

Publicado em 17/05/2025 às 03h50
Ricardo Gesse, CEO da Zurich Airport Brasil, concessionária responsável pelo Aeroporto de Vitória
Ricardo Gesse, CEO da Zurich Airport Brasil, concessionária responsável pelo Aeroporto de Vitória. Crédito: Divulgação/Zurich

Com larga experiência na indústria da aviação, com agens por Gol e Latam, Ricardo Gesse está no comando da Zurich Airport Brasil desde o começo de 2020, justamente quando a companhia suíça assumiu o comando da operação do Aeroporto Eurico Salles e do desenvolvimento imobiliário da área de quase 1 milhão de m² do entorno. Uma enorme responsabilidade, afinal, trata-se da última relevante área livre dentro da capital capixaba, portanto, muito valiosa e, claro, que desperta muitos interesses. O executivo está satisfeito com o andamento dos negócios e espera consolidar o trabalho em dez anos.

"Temos um portfólio de empreendimentos sendo analisados e negociados que injetarão mais R$ 1,8 bi em investimentos na área do entorno do Aeroporto. Com certeza, pela localização e valor do que estamos negociando, isso vai sair do papel ao longo dos próximos dez anos".

Sobre quantidade de voos, Gesse afirmou que vem sendo feito um trabalho e que a impulsão do turismo no Espírito Santo poderia colocar o Aeroporto de Vitória em um outro patamar. "Você tem três formas de ter mais ageiros. Ter um PIB alto, afinal, pessoas com mais dinheiro viajam. agem mais barata. A terceira forma é atrair, por algum motivo, pessoas que não estão na sua região para a sua região. Como faz isso? Negócios e turismo. Temos grandes empresas no Espírito Santo, eventos, reuniões, enfim, há um movimento corporativo interessante. O outro lado é as pessoas desejarem, por lazer, visitar o Espírito Santo. As pessoas precisam querer conhecer Vitória, que é bonita, interessante e segura, o litoral capixaba, Pedra Azul, o turismo de experiência do café... Precisa haver um movimento estruturado para promover o Estado e criar o desejo nas pessoas de fora".

Confira a entrevista completa:

A Zurich lançou, há exatos três anos, o plano de desenvolvimento imobiliário do entorno do Aeroporto de Vitória. Qual é o balanço?

Temos seis empreendimentos já inaugurados, sendo cinco por nós (a Leroy Merlin negociou na época da Infraero). O investimento nesses empreendimentos é de R$ 180 milhões. Temos dois em obras, Escola Americana e Igreja Fonte de Vida, que estão colocando mais R$ 120 milhões. Portanto, somando inaugurados com obras já iniciadas, temos um aporte de R$ 300 milhões. Além disso, temos um portfólio de empreendimentos sendo analisados e negociados que injetarão mais de R$ 1,8 bi em investimentos na área do entorno do Aeroporto. Com certeza, pela localização e valor do que estamos negociando, isso vai sair do papel ao longo dos próximos dez anos. Estamos falando de empreendimentos dos mais diversos negócios, de tudo aquilo que compõe a vida de uma cidade. Indo além um pouco do desenvolvimento imobiliário, temos vitórias importantes como a doação de 13 mil m², tudo autorizado pelos órgãos federais, para a prefeitura de Vitória fazer o mergulhão de Jardim Camburi. Algo muito relevante para a cidade, em linha com a nossa atuação. Outra coisa que gostaria de falar, tem a ver com sustentabilidade, é um investimento de mais de R$ 7 milhões para colocar equipamentos de fornecimento de energia limpa para os aviões em solo. O avião desliga o motor e deixa de lançar gases de efeito estufa enquanto está parado no Aeroporto. Deixaram de ser emitidos mais de 3 mil toneladas de dióxido de carbono.

Lembro que havia uma desconfiança sobre o modelo, que é de concessão. Foi vencida?

Não é algo usual, as pessoas, antes de investir, precisam entender e se acostumar com a ideia. Leva mais tempo, sem dúvida, mas acho que boa parte da resistência já foi vencida. Como é uma concessão, não existe venda, não tem entrega de propriedade, mas para a maioria dos empreendimentos a curva do tempo é suficiente para entregar um bom retorno. Uma portaria do governo, de 2020, permite que o empreendedor fique no local negociado com a concessionária até 30 anos depois do término da concessão, o que ajuda bem. No caso aqui, pode ser até 2079. Mas, de novo, não é um modelo comum por não sermos os donos da terra.

Os resultados alcançados até aqui estão dentro, acima ou abaixo do previsto?

Está em linha.

Ricardo Gesse

CEO da Zurich Airport Brasil

"Temos seis empreendimentos já inaugurados, sendo cinco por nós (a Leroy Merlin negociou na época da Infraero). O investimento nesses empreendimentos é de R$ 180 milhões"

A área central do projeto andou, a de serviços e de varejo também, mas não tem nada na área logística. Tem uma dificuldade com logística aqui em Vitória? Qual é a avaliação que a Zurich faz olhando para cada um daqueles espaços vocacionados?

Em uma expectativa inicial, até pela localização do Espírito Santo, esperávamos que logística andasse mais rápido, mas não foi o que aconteceu. Logística é uma área que depende muito dos movimentos econômicos, muito sensível ao curto prazo e essa é uma área que não evoluiu como a gente esperava. Também posso dizer que eu não sei se esse é um setor que a cidade de Vitória tem tanto interesse de que aconteça aqui dentro do município. Se os moradores e os agentes como um todo entendem como importante. Estamos aqui para desenvolver uma grande área, mas partimos do princípio que a cidade precisa querer. É uma conjunção de fatores que faz com que a logística esteja mais devagar. Mas, no geral, olhando para todas as possibilidades, estamos indo bem.

Assim que vocês assumiram, disseram que um dos objetivos era aumentar a quantidade de carga movimentada por Vitória. Vieram novos voos cargueiros. Vai ficar por aí ou vai além?

Hoje temos dois voos cargueiros dedicados, vindos de Miami. Um da Latam e outro da Avianca. Sempre com boa ocupação. Temos um voo da Avianca para exportação, que leva mamão, gengibre, pimenta... que é consistente, sempre tem volume e, por isso, é muito importante para a economia do Espírito Santo. E, além disso, temos a carga doméstica, que também vem tendo volumes consistentes, o que ajuda a trazer voos e aeronaves maiores para Vitória. A aeronave pode até estar um pouco vazia olhando para as poltronas dos ageiros, mas o porão de cargas está lotado. Isso é muito importante. Azul e Mercado Livre estão com galpões de carga aqui no Aeroporto, é um movimento que visa justamente dar viabilidade para tudo isso que estamos falando. É uma rede que se sustenta como um todo. O mercado de carga é fundamental para dar robustez para a aviação comercial. Estamos sempre crescendo e investindo. O Estado tem vocação para isso, sem dúvida.

O movimento de ageiros vem crescendo, mas ainda há muita reclamação sobre a quantidade de voos vindo e saindo de Vitória. Lembro que um dos objetivos da Zurich era ampliar isso. Como está esse trabalho?

A rota doméstica de Vitória não é ruim na comparação com o resto do Brasil. Nós operamos o Aeroporto de Florianópolis e lá não tem voo para Salvador, para Recife, nunca teve para Fortaleza. Então, até pela localização do Estado, é uma malha boa, com uma boa quantidade de destinos. Atualmente são oito. A oferta para o Rio e para Belo Horizonte é maior aqui do que em outros aeroportos. Entendo o ponto, também gostaria de uma oferta maior, mas a quantidade de destinos domésticos, quando comparamos Vitória com outros aeroportos, é boa. O que a gente precisa, no todo, é de mais voos e opções. A gente percebe um movimento muito claro na aviação, principalmente nos últimos anos, de concentração em hubs e pouca diversificação, porque isso diminui o risco de operação da companhia aérea. Para performar bem, o voo precisa estar cheio. Dificilmente a companhia será lucrativa operando com 65% ou 70% de ocupação. A concentração em hubs se dá justamente porque o hub te garante sair com voos mais cheios. Temos que trabalhar para adensar as conexões, é nisso que estamos trabalhando.

Ricardo Gesse

CEO da Zurich Airport Brasil

"O mercado de carga é fundamental para dar robustez para a aviação comercial. Estamos sempre crescendo e investindo. O Estado tem vocação para isso, sem dúvida"

De que forma?

Nós mostramos para as companhias, todos os meses, o comportamento do mercado, as rotas não atendidas e, a partir daí, entregamos sugestões de voos e ajustes de horários e conexões dos viajantes de Vitória. A gente sempre mostra oportunidades de diversificação, estamos tentando trazer agora, de volta, o voo da Latam para Fortaleza. É um trabalho de ajustes que vai barateando, facilitando e, consequentemente, coloca mais gente nos voos e, tudo dando certo, pode trazer mais voos para cá. É um conjunto enorme de fatores e muito trabalho.

Um turismo mais forte ajudaria nesse trabalho? Qual o potencial que a Zurich enxerga para o Espírito Santo?

Você tem três formas de ter mais ageiros. Ter um PIB alto, afinal, pessoas com mais dinheiro viajam. agem mais barata. A terceira forma é atrair, por algum motivo, pessoas que não estão na sua região para a sua região. Como faz isso? Negócios e turismo. Temos grandes empresas no Espírito Santo, eventos, reuniões, enfim, há um movimento corporativo interessante. O outro lado é as pessoas desejarem, por lazer, visitar o Espírito Santo. As pessoas precisam querer conhecer Vitória, que é bonita, interessante e segura, o litoral capixaba, Pedra Azul, o turismo de experiência do café... É estratégico para o Estado conhecer e entender os seus bons produtos, colocar isso na prateleira dos operadores de turismo e também na cabeça das pessoas. Estou falando de um trabalho forte de promoção. Temos um movimento, mas tem tudo para aumentar. Precisa haver um movimento estruturado para promover o Estado e criar o desejo nas pessoas de fora.

Isso é fundamental aqui para o negócio de vocês...

Sim. Fundamental.

Essa estrutura, que foi inaugurada em 2017, é suficiente para até quando? Já está no radar da Zurich uma ampliação?

Nós temos uma concessão de 30 anos, que vai até 2049. Temos, olhando para frente, as nossas curvas de aumento de ageiros e essa estrutura atual tem capacidade para 6 milhões de pessoas por ano. Fechamos o ano ado em 3,1 milhões, portanto, ainda temos uma boa margem de crescimento. Temos áreas reservadas para expansão da estrutura como um todo e medimos sempre se a necessidade de algo mais pontual, como um portão a mais ou uma área internacional... Tudo está sempre sob análise para que tomemos as decisões no momento adequado, é o chamado gatilho. Quando chegarmos a 5 milhões precisaremos de algo mais sólido, mas ainda estamos um pouco distante deste momento, não está no radar.

Você falou em "internacional". Temos alguma novidade sobre voos internacionais para ageiros, voltou ao radar da Zurich?

Nunca saiu, mas o que acontece é que nós conversamos com as companhias, mostramos o potencial de ageiros aqui do Espírito Santo, temos ferramentas muito robustas para isso, e o movimento precisa crescer para fazer algum sentido. Posicionar bem o Espírito Santo lá fora, como destino turístico, ajudaria muito nesse movimento do voo internacional. Nós não temos um movimento robusto e consistente de internacional em aeroportos sem movimento doméstico. Não adianta um voo por semana para Buenos Aires, não é relevante, precisamos de voos regulares para os mais diversos destinos.

Qual é o novo normal dos aeroportos depois da pandemia?

Algumas coisas mudaram, outras nem tanto. O movimento corporativo diminuiu e Vitória sofreu com isso. A gente vê um movimento de destinos turísticos, de experiência, avançando. Temos um outro movimento, o chamado bleisure, que é um termo em inglês que mistura business (negócios) com leisure (lazer), que está crescendo muito. O ageiro está trabalhando, mas ele prefere destinos em que possa ear depois com a família. É uma mudança importante.

Aí voltamos à questão de o Espírito Santo se promover...

Exatamente. É um Estado muito bem localizado, tem história, tem praia, tem montanhas, é seguro, portanto, deveria estar na cabeça dos viajantes do Brasil.

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