Se glamour, carrões, festas e ostentação parecem ser o ferramental básico dos influenciadores digitais em busca de audiência e seguidores, como as bets poderiam ficar de fora desse jogo? A imagem de uma vida fácil, regada a apostas certeiras que rendem lucros altos e liberdade financeira é sedutora, mas esconde algo bem pouco encantador: a ruína da maioria que prefere apostar a investir.
Não é de hoje que celebridades são peças–chave em ações de marketing. Mas o que mudou radicalmente foi a velocidade com que a influência se transforma em ação. A propaganda de ontem plantava uma ideia; hoje, tem efeito instantâneo.
Se o assunto for jogos de azar, o modelo das apostas mais tradicionais (e analógicas), como loterias oficiais ou o jogo do bicho, impõe aos jogadores uma certa limitação que freia o ímpeto de jogar mais, por uma razão óbvia: o apostador precisa esperar o resultado, que pode demorar alguns dias. Essa pausa foi atropelada pelas bets, que oferecem o jogo contínuo e sem limitações, numa dinâmica viciante e potencializada pelos influenciadores que exibem apenas seus ganhos e nada falam sobre as perdas de seus seguidores. O resultado é uma epidemia de pessoas arruinadas financeira e emocionalmente, a ponto de estudos atribuírem às apostas uma nova questão global de saúde pública, tal como o vício em álcool e tabaco.
A educação financeira é capaz de vencer esse jogo?
Da antiga Zebrinha do Fantástico dos anos 1970 e 1980, no principal canal de televisão brasileira, às filas das loterias oficiais atuais, o desejo de ficar rico numa jogada de sorte é algo típico entre nós. A questão é até que ponto isso influencia a relação pessoal com o próprio dinheiro e não ultraa o razoável.
Gastar menos do que se ganha é o básico para terminar o mês no azul. Logo, ter autocontrole das próprias aspirações materiais e financeiras também faz parte dessa caminhada de qualquer pessoa rumo a uma vida mais saudável com o dinheiro, ainda que goste de fazer sua "fezinha" vez ou outra.
Nos investimentos, disciplina e tempo são sempre exigidos para que ganhos sejam acumulados e multiplicados ao longo da vida. Impulsos normalmente não geram resultados consistentes para quem investe, o que não é atraente para os preferem “investir” nas promessas de lucros rápidos das bets.
Ainda que existam investimentos cujos resultados sejam imprevisíveis, tal como as ações e alguns fundos mais arrojados, os investimentos tradicionais são considerados verdadeiros meios de crescimento financeiro, pois pressupõem a existência de um ativo que possui valor real, palpável, ível de alienação e ainda servem de garantia para outros investimentos.
Mesmo que possuam algum risco, desde que realizados de modo consciente, não são feitos com base em um palpite (tal como num jogo), mas com informação, planejamento, organização e constância para tomada de decisão. Apesar dessa distinção, 4 milhões de brasileiros acreditam que apostar é uma forma de investir, segundo pesquisa publicada pela Anbima e Datafolha, o que demonstra a importância da educação financeira como antídoto do vício de perder, apostar de novo, ganhar um pouco e depois perder tudo.
Outro grande desafio é que talvez tratar de educação não crie tanto “engajamento” como fazer uma transmissão ao vivo jogando dados para ganhar dinheiro. Falar em longo prazo num universo de desejos instantâneos não alimenta o “algoritmo” nem gera novos seguidores. E, assim, a cultura do dinheiro fácil ganha mais curtidas a cada aposta feita, para o lucro de poucos. Espera-se, entretanto, que o tempo e a consciência coletiva permitam o fortalecimento de uma cultura de se apostar menos na sorte e investir mais no que tem valor.
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