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Publicado em 22 de maio de 2025 às 11:27
Fundada há 15 anos, a Academia Capixaba de Futebol (ACF) utiliza o esporte como instrumento de transformação social em Linhares, no Norte do Espírito Santo. Mais do que ensinar as técnicas do jogo com a bola nos pés, a iniciativa atua na raiz de problemas estruturais, oferecendo novas perspectivas a crianças e adolescentes de comunidades marcadas pela vulnerabilidade e pela violência. E o resultado da iniciativa pode ser visto nos gramados mundo afora, com talentos revelados no Estado que fazem sucesso em clubes do Brasil e do exterior, e também com vitórias pessoais que vão muito além dos campos.>
A iniciativa nasceu da inquietação da educadora Emiliana Silva, que se deparou com crianças usando entorpecentes após as aulas. Ao lado de Neemias Santos Silva, ela deu início à ACF, que começou de forma informal com apenas 20 crianças e, hoje, acolhe cerca de 400 jovens.>
Segundo Neemias, a maior realização do projeto é ver os jovens superando a exclusão social e sonhando com um futuro melhor. “Nosso maior sucesso é ver essas crianças estudando, mudando a própria história e rompendo o ciclo da violência e marginalização”, afirmou.>
A ACF realiza acompanhamento integral com uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, educadores e psicólogos. O foco é o desenvolvimento físico, emocional, familiar e escolar dos participantes, criando alternativas à realidade de violência em que muitos estão inseridos.>
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A assistente social do projeto, Siele Pereira da Silva de Oliveira, destaca que a iniciativa da ACF, articulada às demais políticas públicas, tem o potencial de trabalhar de forma preventiva, contribuindo para o o a serviços gratuitos que complementam a função protetiva da família e do Estado. >
Siele Pereira da Silva de Oliveira
Assistente socialEntre os relatos de superação, destaca-se o de João (nome fictício), acolhido pelo projeto após vivenciar uma série de traumas. Aos seis anos, perdeu a mãe e ou a viver em um lar marcado pela violência constante. Dois anos depois, foi expulso de casa pelo próprio pai, dependente químico e agressor.>
Sua irmã mais velha, Maria (nome fictício), que morava em Linhares, buscou o menino em Vitória após receber uma ligação dele contando tudo o que vinha ando com o pai. “Precisei acionar a polícia e o Conselho Tutelar para conseguir tirar ele da casa do pai. Foi quando descobri que não era a primeira vez que o pai agredia o ‘João’. Ele tinha marcas da violência pelo corpo e contou que, por muitas vezes, via o pai levando mulheres para usar drogas dentro de casa”, relata.>
Assustado e com sinais de agressividade por tudo o que havia presenciado, o menino ou por um processo de reconstrução dentro da ACF. “Tratavam ele como um filho. Davam conselhos, cobravam disciplina e mostravam carinho. Aos poucos, ele se transformou, ficou mais respeitoso e calmo. Ele era uma criança e eu, muito jovem. Devia ter 20 anos. Então, não sabia lidar com todas as situações, o Neemias e a Mila (Emiliana) me ajudaram muito”, lembra Maria.>
Hoje, João é um jovem com novos planos e perspectivas. “Um vizinho antigo me disse que, se eu não o tivesse tirado de lá, o destino dele teria sido completamente diferente. Hoje ele não carrega mais os traços do pai e os resquícios da violência que via diariamente”, conclui a irmã.>
De acordo com Maria, durante os anos em que participou do projeto, João fez amigos, viajou para outros Estados e teve o a novas oportunidades que mudaram a história da sua vida.>
Há mais de oito anos, a Academia de Futebol (ACF) oferece oportunidades de intercâmbio internacional para jovens que participam do projeto, por meio de editais governamentais, sem custos para os beneficiados. Essa iniciativa, de acordo com o cofundador Neemias, tem transformado a realidade de muitos jovens, que hoje cursam universidades estrangeiras e alcançaram sucesso em suas carreiras. >
É o caso de Ruan Silva, que ingressou no projeto aos 13 anos, em 2014, quando chegou a Bebedouro. Graças às oportunidades proporcionadas pela ACF, ele agora joga profissionalmente em Portugal, pelo Clube Desportivo Praia Milfontes. "Através do projeto, eu tive minha primeira oportunidade no futebol. O projeto me fez sonhar e acreditar. Mas, além disso, me fez uma pessoa melhor", recorda o ex-aluno.>
Academia Capixaba de Futebol (ACF)
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